quarta-feira, 27 de maio de 2009

Opinião

O nosso trabalho não estaria completo sem a opinião de um profissional que tão bem conhece a problemática do nosso trabalho. António José Castro tem 26 anos, é licenciado em Psicologia, pela Universidade do Minho. Estagiou e trabalhou na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Braga, tendo contactado durante dois anos com casos de crianças, que por estarem inseridas num quadro de família disfuncional, se tornam no principal alvo do olhar destes profissionais.
Crianças em risco


Ao longo dos anos em que fui trabalhando com crianças, sob diversas formas, a experiência acumulada foi-me dando a perceber a dinâmica subjacente ao risco de um desenvolvimento conturbado e desequilibrado, que muitas vezes se reflecte, ao longo do tempo, num conjunto de escolhas sucessivas, que conduzem a um percurso que se afasta a passos largos do ideal.
Ao longo do tempo observei que o risco se podia revestir de duas formas, às quais chamei “8 ou 80”, formas e contextos
que potencializam nos menores um desenvolvimento pouco concertado, conduzindo na maioria das vezes a uma idade adulta conturbada, irreflectida e, acima de tudo, precoce.
Começarei por abordar o “8”, o mais típico risco, ou seja menores de famílias desagregadas onde o baixo nível económico e a baixa supervisão imperam, onde as únicas práticas educativas utilizadas são caracterizadas por repreensão física e onde a violência é muitas vezes a única forma de comunicação entre os seus elementos.
Estes miúdos normalmente procuram na cultura de rua e principalmente em pares também eles desviantes, os modelos vinculados, formando desde cedo os denominados “gangs”, responsáveis pelos primeiros actos delinquentes. Neste grupo encontramos filhos de famílias monoparentais, miúdos institucionalizados, aos quais muitos autores denominam de “rejeitados da sociedade”.
Contudo, nos últimos tempos, temos assistido a proliferação do contrário, ou seja do “80”, crianças de famílias economicamente bem colocadas, cuja educação em regime liberal oferece, desde cedo aos menores, não só uma responsabilidade crescente, mas acima de tudo um poder de decisão nas opções familiares. Este método educativo surge, normalmente, associado como balanço relativamente a um estilo parental ausente, onde os menores são entregues na maioria do tempo aos seus passatempos, e onde a consola muitas vezes acaba por passar mais tempo com os miúdos do que propriamente os seus progenitores. Isto faz com que os jovens assumam uma posição de comando nos diversos sectores da sua vida, e que tenham dificuldade em assimilar as regras sociais subliminares, conduzindo-os a comportamentos anti-sociais.
Dai que seja importante estar atento, trabalhar a importância do contexto familiar, como potenciador de regras que os preparem para um vida em sociedade, tentar que a passagem ou peso de uma família desestruturada seja equilibrada por estruturas sociais competentes, capaz de contornar todas as adversidades criadas pela falta ou mesmo inexistência de suportes sociais, e que estas instituições seja mais que contentores de menores que os impedem de dormitar na rua, e que se transformem em verdadeiros centros educacionais. Apesar disso, esta não deixa de ser a verdadeira razão da existência destes locais.

António José Castro,
Psicólogo

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